Eu vivi num vale isolado, cercado por montanhas tão altas que pareciam tocar o céu. Esse era o famoso Vale Esquecido. E tinha esse nome, não porque seus habitantes tivessem perdido a memória, mas porque muitos preferiam esquecer a sua existência. Por isso eu ficava muito curioso.
Quando falavam nele, diziam que lá dentro, bem no coração do vale, havia um espelho mágico, envolto em lendas e mistérios. Com certo medo, eu ouvia dizer que esse espelho não refletia a imagem de quem olhasse para ele, mas sim, refletia a essência de sua alma. Era quando eu sentia arrepios, aumentando minha curiosidade.
Desde criança, eu ouvia histórias sobre o espelho, mas nunca me atrevi a procurá-lo. Mas como sou muito curioso, com um coração inquieto, sempre me perguntava sobre o propósito da minha vida, sobre minhas paixões e meus medos, mas as respostas não me agradavam.
Então eu pensei: Será que a minha missão de vida é encontrar esse espelho e me tornar um herói?
Um dia, cansado de viver em dúvida, eu decidi enfrentar meus medos e partir em busca do espelho. Eu sabia que a jornada seria difícil, pois os desafios testariam a minha força física, a minha mente e o meu coração. Mas segui determinado!
No primeiro dia da minha jornada, eu encontrei um rio turbulento. As águas eram tão violentas que pareciam gritar de raiva. Assustado, pensei em voltar, mas então ouvi uma voz sussurrar: "Para eu conseguir atravessar esse rio, eu devo compreender a origem dessa turbulência."
Então eu respirei fundo, refleti e percebi que, assim como o rio, muitas vezes eu era dominado por sentimentos confusos. Então eu respirei fundo mais uma vez e me acalmei. De repente, as águas se tornaram mais serenas, foi quando pude atravessar.
No segundo dia, eu cheguei numa floresta densa e escura. As árvores eram tão altas que bloqueavam a luz do sol, fazendo eu me sentir perdido. Sem que eu esperasse, novamente, a voz sussurrou: "A escuridão que me cerca é um reflexo do que eu carrego dentro de mim."
Então eu fechei os olhos e enfrentei meus medos mais profundos: o medo de não ser bom o suficiente, de falhar, de nunca encontrar o meu lugar no mundo. Quando abri os olhos novamente, a floresta parecia menos assustadora, e eu encontrei um caminho iluminado por uma luz suave. Animado, segui em frente!
No terceiro dia, eu finalmente cheguei ao espelho. Que emoção! Ele estava em uma clareira, envolto por uma aura brilhante. Com o coração acelerado, eu me aproximei dele e olhei para o reflexo. A princípio, eu vi apenas uma névoa, mas, aos poucos, a imagem começou a se formar. Eu não vi meu rosto, mas sim cenas de minha vida: momentos de alegria, de tristeza, de força e de fraqueza. Vi minhas escolhas, meus erros e minhas conquistas. E, no centro de tudo, percebi uma luz que nunca se apagava – era a minha verdadeira essência, pura e imutável.
Confuso, perguntei: esse sou eu? É isso?
E mais uma vez, a voz sussurrou: "O autoconhecimento não está em buscar respostas prontas, mas em fazer as perguntas certas. Como um raio, compreendi que eu sou mais do que meus medos, mais do que minhas dúvidas. Eu sou a luz que guia o meu próprio caminho."
Reflexivo, eu retornei do vale completamente diferente, transformado. Sabia que ainda não tinha todas as respostas sobre mim, mas, pela primeira vez, senti-me confortável em viver com minhas perguntas. E, mais importante, compreendi que o espelho não estava no vale, mas dentro de mim. E ele só apareceu quando me deparei comigo no meio daquele ambiente.
Voltei para casa fortalecido lembrando daquela experiência que deixou de ser um mistério para mim. Pelo contrário, tornou-se um lembrança permanente de que eu sou o vale esquecido e que o autoconhecimento é uma jornada sem fim para encontrar o espelho. Mas que a cada passo dado nessa caminhada, eu me torno mais completo.
Ato de Saber
Mhauro Garcia



